Chris Csikszentmihalyi, Cornell University (EUA)


Moderação: Heitor Alvelos (FBAUP)





Chris Csikszentmihalyi, Professor Associado de Ciências da Informação na Universidade de Cornell (EUA), foi convidado pelo ciclo de conversa Os Dados & Nós para refletir sobre como podemos criar pequenas plataformas para gerar e tirar proveito de dados.

Csikszentmihalyi começou por refletir sobre o trabalho de Kentaro Toyama, professor da Universidade de Michigan, que argumenta que há uma diferença entre o design da tecnologia e a tecnologia desenhada em prol de uma mudança social, e questiona: o que é necessário para uma mudança social significativa? A partir desta questão, Csikszentmihalyi afirma que inovar para o bem social requer uma inversão das relações de poder.

Nos últimos anos temos assistido a uma tentativa de recriar o Silicon Valley em vários locais do mundo, ideia defendida por diversas empresas de consultoria, peritos e políticos. No entanto, a "magia" não aconteceu em mais nenhum lugar em grande parte, diz-nos Csikszentmihalyi, porque o que acontece em Silicon Valley depende de uma administração e investimento Estatal significativo e sustentado, como concluiu estudos a economista Mariana Mazzucato. Assim, para Csikszentmihalyi, a verdadeira inovação vem (e virá) de lugares inesperados e não dos CEO’s de Silicon Valley.

A título de exemplo, Csikszentmihalyi refere a plataforma de crowdsourcing Amazon Mechanical Turk, criada no início dos anos 2000, onde empresas ou indivíduos contratam trabalhadores remotos para realizar tarefas que os computadores não são ainda capazes de realizar. Apesar da Amazon apresentar esta plataforma como um local de trabalho por excelência, vários estudos têm demonstrado que nela os trabalhadores estão sujeitos a práticas laborais exploradoras que tendem a ser inescrutáveis. Com o objetivo de a melhorar, Lilly Irani and Six Silberman criaram uma plataforma paralela, a Turkopticon , que permite que os trabalhadores se organizem e partilhem dados sobre o que se passa de menos positivo na Amazon, como a retenção de salários. Segundo Csikszentmihalyi, este é um exemplo de como podem ser concebidas plataformas em torno ou por baixo de outras já existentes para melhorar e modificar os seus efeitos.

Chris Csikszentmihalyi apresentou ainda um outro exemplo, relacionado com o “paradoxo da abundância” que frequentemente leva a sobre-exploração de recursos naturais, e que é tipicamente associado a países em vias de desenvolvimento mas que, segundo o investigador, causou diversas explosões em 2007 e 2008 em habitações nos Estados Unidos. Durante vários anos o governo manteve bases de dados secretas que continham dados sobre o que estava realmente a acontecer, impedindo os utilizadores de acederem a elas. Com base nestas informações, o investigador, em parceria com Sarah K. Wiley, desenvolveu um conjunto de pequenas plataformas que contêm dados acessíveis sobre esta indústria onde era possível criar registos sobre o tipo e a qualidade do trabalho desenvolvido por estes profissionais, com o objetivo de ajudar as comunidades locais.

Outro dos exemplos apresentados refere-se ao Google Maps, que utiliza imagens captadas por satélites que têm um custo significativo. Isto faz com que a Google apenas utilize imagens de grande resolução nos países mais ricos do mundo. No entanto, Jeff Warren e a sua equipa perceberam que não necessitavam de satélites para captar imagens de qualidade e utilizaram máquinas digitais descartáveis presas a balões ou papagaios de papel, manobradas por indivíduos locais, incluindo crianças. Estas imagens permitiram captar, por exemplo, o derrame de petróleo da BP. Ao longo do tempo, a equipa formou uma associação sem fins lucrativos intitulada The Public Laboratory for Open Technology and Science que produz dados sobre questões ambientais de acesso público. Anos mais tarde, estas imagens passaram também a fazer parte do Google Maps e apresentam não só uma resolução maior como dados mais recentes, a um custo bem mais acessível e com um trabalho que envolve as comunidades representadas nos dados.

Um dos aspetos importantes que torna possível a existência de plataformas mais pequenas que geram os seus próprios dados utilizando lógicas não-extrativas mas sim de colaboração com os interesses e comunidades locais, é a propriedade intelectual da Free Library os métodos de desenvolvimento, coordenação e comunicação por equipas que trabalham em questões de gestão pública em todo o mundo.

Os exemplos apresentados nesta conversa mostram o poder e papel das plataformas pequenas como ferramentas chave para uma abordagem à tecnologia focada no bem público. Estas plataformas recolhem e potenciam dados de interesse para os cidadãos e são uma forma poderosa de ativismo. Assim, para Csikszentmihalyi, mais do que plataformas de ciência e tecnologia cidadã, que atraem maioritariamente o interesse dos cientistas, as plataformas comunitárias de ciência e tecnologia tendem a interessar-se pela comunidade e permitem uma abordagem diferente de recolha e partilha de informação.