Natalie Bookchin, artista interdisciplinar e professora na Mason Gross School of the Arts da Rutgers University (EUA) foi convidada pelo ciclo de conversas Os Dados & Nós para, através de uma caminhada pelos seus trabalhos, responder à questão: pode a subjetividade e a humanidade de uma pessoa escapar ao alcance do algoritmo?
Ao longo dos anos, a artista tem explorado estas questões através de arquivos de dados – vídeos e sons – que as pessoas fazem e divulgam online. Para chegar a estes ficheiros, Natalie Bookchin pesquisa a partir de padrões que não são detetados através de um único vídeo nem com a recomendação do algoritmo. Em todos eles escolhe manualmente o recorte que quer utilizar.
O primeiro trabalho apresentado por Natalie Bookchin, é uma coletânea de vídeos retirados do Youtube intitulado Parking Lot Parking Lot. Neste trabalho, lançado em 2007, a artista reúne vídeos de pessoas que se gravaram em parques de estacionamento para tocar instrumentos, cantar ou dançar. Aqui estão vídeos de todo o mundo, em parques de estacionamento de diversas cadeias comerciais, onde os indivíduos se apresentam a realizar pequenos atos de rebelião ocupando-os.
Já o segundo, intitulado Mass Ornamnent (2009), em referência à obra de Siegfried Kracauer, crítico cultural e sociólogo alemão, é feito numa altura em que as câmaras de filmar eram maioritariamente as dos computadores fixos e por isso as filmagens são recolhidas em casa mostrando utilizadores que dançam livremente, sem coreografia definida. “Eu estava realmente interessada em mostrar não só as semelhanças entre os vídeos, mas também os gestos em que as pessoas parecem empurrar os limites dos seus quartos, os espaços onde estão fechadas”, explica Natalie Bookchin.
Em Laid Off (2009) , a artista mostra-nos vídeos de diversas pessoas que relatam o seu despedimento. Natalie Bookchin explica ainda que hoje não seria possível encontrar vídeos deste género, já que a plataforma Youtube mudou drasticamente nos últimos anos e apresenta agora um caráter bem mais comercial. Também os comentários agressivos e o discurso de ódio afastaram este tipo de conteúdos, que a artista crê que representavam a crença ingénua de encontrar alguém a passar pelo mesmo com quem se podia interagir.
Também feita a partir de vídeos, a obra My Meds (2009), apresenta relatos retirados de vlogs, de quem inicia o processo de medicação. O trabalho que encerra este projeto de vídeos intitula-se Long Story Short e foi terminado em 2016. Aqui, Natalie Bookchin não descarregou vídeos encontrados online, trabalhou sim com diversas pessoas que gravaram os seus próprios vídeos através dos quais a artista explorou a pobreza como uma experiência social, contra a posição comum de que a pobreza é gerada por culpa dos indivíduos e dos erros cometidos por este. Estes são temas que geralmente não se encontram partilhados nem publicados online, para Natalie Bookchin o objetivo era dar a conhecer as histórias que as pessoas não contam.
O último trabalho apresentado intitula-se Ghost Games (2021) e é resultado da recolha de vídeos online e outros feitos após uma chamada pública que pedia vídeos dos sons que foram ouvidos durante os tempos de isolamento provocados pela pandemia da Covid-19. Natalie Bookchin explica que este trabalho mostra que mesmo isoladas as pessoas criaram uma sensação de conectividade com bandas sonoras partilhadas, como o som das ambulâncias ou os sinos das igrejas.
Neste momento encontra-se a desenvolver trabalho em forma de filme especulativo, que terá lugar no futuro, num país sem nome e que explora as relações entre os humanos e os não humanos, entre os factos e a ficção.
Até hoje, toda a arte de Natalie Bookchin navega entre as fronteiras do privado e do coletivo, utilizando os recursos disponibilizados pela tecnologia, sem deixar que o algoritmo dite onde nascem as suas obras. “Por vezes penso tanto no material que recolho que acabo por me apaixonar por ele, fico extremamente interessada em ver o mundo pelos olhos das outras pessoas”, explica.